quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Rachaduras de meu Sertão - Autoria

Andando pelo Sertão, meia noite, meios passos, avisto nas rachaduras um lampião e o cangaço. Contemplo, espero, e paro com espanto de um gato ao levar peia d'água quente. As criaturas que vi, só antes ouvi falar, era mesmo lampião e sua quadrilha acolá. Seguiram adiante, eu não quis interromper, segui comigo sozinho, pensando e falando baixinho as coisas que acabei de ver.
Mais na frente avisto uma velha, rabugenta e maltrapilha, essa perguntei o nome, respondeu-me: Sou a FOME!
Com ar de não querer nada, perguntei o porque de carregar, aquele barquinho com tanto pesar. Respondeu-me bem baixinho, pra mó de ninguém escutar: Quando chove sou levada, pela enchente inundada, e se não tiver barco eu posso me afogar.
Despedi-me e segui viajem, umas quatro da manhã mas na frente em outro vinco, um senhor muito alegre, pude ouvir sua zombaria: Sou a FORÇA e a ALEGRIA. Disse-me sem perguntar: SOU EU QUE ALEGRO O POVO, E A FORÇA VENHO LHES DAR, SÓ ASSIM SUPORTAM A FOME, VELHA RABUGENTA E GAGÁ!
Logo atrás uma criança, cantando "sou a esperança!". _ Acredite meu amigo, nas promessas que são ditas, eu sou a esperança, a única que não é perdida.
Perguntou-me se avistei lampião, cabra bom e lutador, que por defender o seu povo é visto como mal feitor. Disse-lhe que passou ligeiro com a trupe e a Bonita, sem esperar terminar correu ela tão feliz com o vento a lhe ajudar.
Já bem cedo de manhã o sol tímido não quis aparecer, o céu cheio de nuvens carregadas de estrume para os vincos preencher. Ouvi um estrondo e senti um pingo, apressei-me no caminho, uma árvore de espinhos foi onde pude me esconder.
Começou a trovejar, relampejar e até chover, um toró que nunca vi, nem ouvi e nem vivi. Quando vejo pelos vincos a fome voltar no barco, com um remo numa mão e um balde a tirar a água que já lhe enchia o barco, sofrimento da danada. Foi navegando na água, até que a perdi de vista, parei de olhar pelos gritos, que dos meus pés subiam, era o velho alegria, a observar a chuva, todo contente e feliz, proseava alguns versos, falava da fome e da seca, que os vincos tinham aberto. Correu de repente pro mato, dizendo ir alegrar o seu povo, e dar força para os fracos, ajudar-lhes a erguer de novo. Logo vi a esperança, com chapéu de lampião, vinha boiando na água, aquietou seu coração. Falou-me que tinha ouvido, sobre uma transposição que passaria por ali, seguindo na região, e se ela acontecesse os vincos seriam tapados, pra sempre haveria água, e a fome não voltaria. Vi quando saiu da água, entucou-se pelo mato, parecia que iria seguir os rastros do Alegria.
Segui viajem na chuva, pensando e relampeando, como no seu avistava, sobre tais criaturas encantadas e quando as encontraria. Só resta daquele dia, saudade do Alegria, vontade da Esperança, e da Fome a lembrança, pois não desejo a ninguém que ela lhe faça companhia.


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